2.10.15

2 TAVARES + 1 AFIM: dia 05_02 de setembro.

A entrada em França, os impermeáveis, a serra, o calor, a praia e a estrada.

Chegar a França. Queríamos chegar a França. Eu tinha planeado (ainda em casa) passarmos pelos Pirinéus, fazer curvas e chegar a Carcassonne. Mas a meteorologia nem sempre está do nosso lado. Quando acordámos chovia. Chovia bem. Lá montámos as malas e encaixámos os sacos da roupa enquanto alguns pingos desciam pelo meu pescoço. Os 20 minutos diários passaram a 45, já que tínhamos de vestir os impermeáveis e arranjar uma forma de isolar as botas da Nuna (dois sacos plásticos e fita americana serviram).


Apontei o GPS para Collioure, uma pequena aldeia junto ao Mediterrâneo, a oeste de Perpignan. Primeiro porque a Nuna queria lá ir. Segundo porque queria afastar-me dos Pirinéus (se "cá em baixo" já chovia bem, não queria saber como estava "lá em cima").
Durante o caminho começo a questionar-me se estávamos a ir bem. Primeiro porque estávamos a rumar a norte. Depois porque via montanhas à frente… mas deixei-me ir.

Comecei a ver Montserrat ao fundo. E uma estrada junto a uma escarpa. Eu só pedia ao deus dos GPS que não fôssemos por lá. Havia muitos camiões e autocarros nessas estradas. E curvas fechadas. E muita água. Tudo para que esse caminho fosse de sofrimento.

Felizmente não era por aí. Passámos mesmo em frente no acesso a Montserrat, mas seguimos em frente.
Estávamos numa nacional rápida, a uma altitude elevada, com verde dos dois lados. Só nós e meia dúzia de camiões usavam a estrada. O que significa menos stress de trânsito. Parámos para trincar qualquer coisa e meter gasolina. Tinha parado de chover. Estaríamos perto de Vic. O pai da Nuna tirou o impermeável e disse que não precisaríamos mais dele na viagem. Eu gabei o lado positivo da afirmação mas, pelo sim pelo não, deixei-me ficar com o impermeável.

Lá está o Tavares a tirar os impermeáveis.

Estradas nacionais. Era o que nos estava reservado até entrarmos em França. Eu estava contente com isso. Parámos para tirar os impermeáveis. Afinal de contas, já tínhamos feitos duas horas sem chuva. França não estava muito longe. E, falo por mim, estava aliviado e feliz por chegar.

Continuámos o nosso caminho. A paisagem, de verde e pequenas aldeias, passou a ser industrial e comercial. Eu questionava a Nuna se aquilo não seria uma zona franca. Não se justificavam tantos shoppings e restaurantes numa zona teoricamente remota.

E a placa de França aparece. Faltava um quilómetro e eu tinha pensado em parar e fotografar as motos junto à placa de entrada. Ficou para outra vez. A placa ficava no meio de numa curva fechada. Parar era arriscar. 

E depois de algumas curvas, chegámos a Le Perthus. Bem, se aqui é assim, não quero conhecer Andorra. Demorámos quase 15 minutos a fazer uma reta de 2 km. A confusão de lojas era imensa e o trânsito era mais que muito. E como estávamos com as motos carregadas, não dava para furarmos o trânsito. O que vale é que depois deste sítio fizemos curvas. E muitas. o problema era o raio do domingueiro que ia à minha frente, a 50 km/h…

Seguíamos para Collioure, o sol já se via no céu azul. Tudo estava perfeito. Perto de Collioure aparecem mais curvas e o mar em fundo. Devemos ter ficado umas duas ou três horas. Tempo suficiente para ver o mar, a aldeia, de comprar uma baguete (com sotaque francês) e queijos (a nossa perdição). 

Aqui questionava-se se para o ano viríamos de barco.

Para que os turistas não comprem molduras, quando chegarem a casa.

Um sorriso numa parede.

Olha o barco, Nuna! Olha o barco!

Sim, é uma praia. Mas sem areia.

O Castelo de Collioure.

Ainda deu para experimentar a "baleia".

Sentados à sombra, almoçámos e descansámos. 

Ainda faltavam alguns quilómetros para Carcassonne. A Nuna queria passar em Perpignan. Assim, seguimos a estrada perto da costa. Até que o para-arranca surge… sugeri ignorarmos Perpignan. Teríamos de seguir àquela velocidade e eu não estava para isso. Apontei para Carcassonne. Seguíamos numa nacional, a boa velocidade, com o mar à nossa direita e a linha de comboio à esquerda. A certa altura, o GPS manda virar à esquerda. Eu achava estranho. À esquerda parecida não haver nada. E se fosse uma autoestrada eu não queria. Depois de dez quilómetros a ignorar, fiz o que ele mandava. Em boa altura. Seguimos por uma estrada sem carros, com muitas curva e a paisagem certa: vinhas, floresta, um sol a espreitar entre os ramos. Depois aparecem pequenas aldeias, com anúncio de venda de queijo de cabra (uma distração, para mim e para a Nuna). Havia uma placa onde se lia "Route 20", que fiquei a saber depois que é uma estrada que liga Paris a Espanha, que de nacional está a ser convertida em autoestrada.

Eram para aí 18:00 quando chegámos ao hotel. Estávamos felizes. Cansados, é certo. Mas felizes. Estávamos em França!

Ficámos outra vez num Ibis budget, que serviu perfeitamente para dormir e tomar banho. Fomos de moto até ao centro (5 km) onde andámos a pé para esticar as pernas dos quilómetros que já tínhamos feito. Acabámos por jantar num pequeno restaurante. A conversa andou à volta do que tínhamos visto no dia, de como estávamos cansados e do que estaria para vir. 
Foi um bom fim de noite. 

Agora que Espanha já tinha passado, fica a minha opinião acerca da circulação de moto no país de nuestros hermanos. É espetacular. Quem vai de carro respeita efetivamente quem está de moto. Como exemplo dou a estrada que passa junto a Montserrat. Uma via para cada lado e linha contínua. Por causa da chuva circulávamos a cerca de 60 km/h. Acumulou-se uma fila atrás de nós e não faziam a pressão típica portuguesa para ultrapassarem. Esperaram calmamente até ao final da linha contínua. 

Outra coisa interessante é o respeito pelas velocidades nas localidades. Toda a gente abranda para os 50 km/h. A acrescentar os famosos "V" de cumprimento motociclista. Toda a gente se cumprimenta, sobretudo nas nacionais. Parece mesmo haver espírito motociclista. Muito mais que em Portugal. Lembro-me de ter passado por um grupo grande de motos depois de Bragança. Nenhum cumprimentou.

O percurso do dia (mais coisa, menos coisa).

1 comentário:

  1. Fantástico, Quico!
    E este pormenor do mapa com a indicação do trajecto, está demais!
    Que férias deliciosas!
    Beijinho

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