29.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_6

14 de junho
Ponferrada - Porto
O dia que ninguém queria.
Fotos de Rui Oliveira

O último dia. Fico sempre stressado com o dia de regresso porque sei que vai acabar a diversão diária, porque vou voltar à rotina, porque queria continuar a descobrir sítios e gritar "WOW" a plenos pulmões dentro do capacete.

Apesar de ser o dia de regresso a casa, queríamos fazer uma última visita turística. Fomos às Médulas, que se revelaram um sítio que impressiona ao olhar. Terra vermelha, em altura e um verde a rodear o vermelho. Muito bonito. 
As Médulas, segundo li, eram uma exploração mineira do tempo dos romanos, que utilizavam a água para desbastar a montanha, e chegar ao ouro.

Como tínhamos pouco tempo, subimos ao miradouro, para apreciar as Médulas de cima e tirar umas fotos. A esta altura ainda estávamos convencidos que íamos almoçar uma posta em Ponte da Barca.

Uma panorâmica das Médulas.

O caminho das Médulas até Ourense foi corrido. Corrido porque pouco parámos, corrido porque a chuva "obrigáva-nos" a seguir sempre caminho, numa tentativa frustrada de fugir dela. Primeiro caiu forte, depois foi parando, mas esteve sempre connosco até à entrada de Ourense. Decidimos que íamos almoçar aqui, até porque já eram 14 horas. Comemos um bocadillo, atualizámos as fotos.

E o céu transforma-se. Escuro, a prometer chuva forte. Ainda faltavam uns quilómetros até chegar a Portugal (não sei porquê, mas achámos que passar a fronteira seria sinónimo de casa, de conforto e de sol). Foi mais ou menos a essa hora que olhámos a fundo para o pneu da moto do Rui… já tinha dado sinais de entrar nas lonas a caminho das Médulas. Mas em Ourense começámos a duvidar (mais eu) da possibilidade de ele conseguir chegar a Portugal.

O pneu da moto do Rui, a saída de Ponferrada.

Saímos de Ourense e seguimos a nacional, com umas curvas bem interessantes, que nos iam levar até Portugal. Chovia. Em alguns pontos chovia muito e estava frio. 

A 40 km da fronteira, mais um tyre alert. Aquilo estava a ficar mesmo mau. Ao ponto de a primeira lona já estar a dar de si. Lembro-me perfeitamente de ver o Rui a tirar bocados da lona. “Medo”, pensei eu.

Conseguimos chegar à fronteira de Portugal. Saltámos, celebrámos. O pneu estava em casa! E como o tempo tinha melhorado, estávamos mais animados. 
Dali foi seguir as curvinhas até Ponte da Barca. Eu a divertir-me, a deitar a moto nas curvas. O Rui nem tanto. Seguia atrás de mim, a segurar a moto, que fugia a cada curva. 

Portugal! Repare-se no pneu da Hornet.

Optámos por seguir a autoestrada até ao Porto, em vez da Nacional até Braga. Confesso que foi a altura da viagem em que rolei com mais tensão. Pensava o que aconteceria se o pneu rebentasse, se chegaria ao Porto… mas não. Passámos Braga, Famalicão, Santo Tirso e, de cada vez que olhava pelo espelho, constatava que o Rui ainda rolava. Devagar, mas rolava.

Quando passámos a portagem da Maia, foi o descarregar. O pneu tinha aguentado e estava em casa.

O que faltou na viagem? Nada. Tivemos de tudo. Frio, chuva, calor e sol. Foi muito bom entrar mais dentro dos Picos da Europa. Gostava de ter ficado mais dias e de ter melhor tempo, para poder mergulhar nos lagos, ou descobrir mais lugarejos no interior. Ficará para a próxima.

26.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_5

13 de junho
Riaño - Ponferrada
Dia de saída dos Picos. O dia que marcava o início do regresso a casa... 

Fotos de Rui Oliveira

Íamos acabar o dia em Ponferrada. Eu tinha feito um percurso em que sabia que teríamos curvas, mas nada nos preparava para a paisagem. 

Sair de Riaño foi fabuloso. Um conjunto de curvas rápidas que nos levaram até à descida da barragem. Depois vieram as retas. Durante uma hora seguimos a 100 km/h, com temperaturas a rondar os dez, doze graus. Eram 11 horas quando parámos para um café para esticar as pernas. Depois seguimos por mais umas retas. Eu achava estranho estar na estrada para Oviedo, que é para norte... até que o GPS manda virar à esquerda... E começaram as curvas. 

O tempo tinha aquecido e rolávamos com 13 graus. Curvas rápidas, no meio de encostas gigantes. Parecia que a estrada tinha sido cavada ali. Até que surge uma subida... 4/5 km em curva e contracurva, com cotovelos... uma loucura e sempre com uma vista bastante agradável e um vale a acompanhar-nos. 
No final da subida havia uma lomba. E do outro lado o sorriso surge na nossa cara. Em fundo via-se uma pequena aldeia e, de vez em quando, a estrada que saía da encosta, só com curvas... o paraíso para quem anda de moto! 

O Rui passou  para a frente. Eu deixei de o ver. E continuei na minha, a curtir cada curva... maravilhoso. 
Até que o Rui está parado num desvio. Perguntou-me se queria ir por ali. "Vamos", respondi. Subimos por uma estrada em mau estado, que tinha um pequeno túnel no cimo. Do outro lado o céu... era o Valle de Abras. Uma aldeia no meio de montanhas, com um lago (?) gigante à frente. Se a paisagem anterior era boa… esta era inesquecível. Parámos para fotos e apreciar o silêncio.

A vista do Barranco de Aronga, onde fica o Valle de Abras.

Continuámos a descer até ao almoço, cerca de 20 km à frente. Dos cotovelos, a estrada alongou-se em muitas curvas rápidas, passando por baixo da AP-6, a autoestrada que leva a Oviedo. Seguimos um grupo de 4 ou 5 espanhóis. E que bem sabia ver as motos à frente a deitarem-se nas curvas.

Depois de almoço começámos a entrar na zona mineira. Faltavam 80 km e todos os sítios por onde passávamos eram escuros, abandonados, feios. Tinham vivido das minas e, com o fecho de grande parte delas devido à crise, as cidades em volta foram definhando.

A acompanhar a linha férrea, perto de Ponferrada.

Decidimos entrar num desses lugares e fomos dar àquele que seria o ponto de encontro, caso a sirene tocasse (talvez por causa das minas, não sei). O curioso deste sítio era o tronco de árvore esculpido que estava à nossa frente, com motivos agrícolas.

Um ponto de encontro, no caso da sirene tocar (talvez por causa das minas, não sei). 

Chegámos pouco depois a Ponferrada. A ideia era fazer check-in e descobrir a cidade. Como o hotel era longe do centro, fomos de moto. Estava um tempo aceitável. Mal entramos no centro, uma chuvada. Parámos as motos num passeio e entrámos num tasco para uma caña. "Tenham cuidado que moto no passeio dá 200€ de multa". Bebemos, esperámos que a chuva passasse. Pegámos nas motos para trocar de sítio, porque eu estava a stressar. Eu vejo indicações para o casco antigo. Ora, sabendo que em Espanha é uma zona agitada, seguimos até lá.

Parámos as motos eram cerca das 18 horas. Sentámo-nos numa esplanada a curtir o sol, beber umas cañas e comer umas bravas, que insistiam em vir com a cerveja. Três cañas depois decidimos dar uma volta. E vimos um sítio com muita gente... Entrámos e pedimos mais duas. Foram acompanhadas por dois mini hamburgueres bem deliciosos. E decidimos dar mais uma volta. O Rui sugeriu entrarmos numa rua. "Aqui vai ser fixe, vais ver". E foi. Mais duas cañas, uns embutidos maravilhosos a acompanhar. Muita conversa, algumas cañas e embutidos serviram de combustível para voltar à realidade. Decidimos que seria melhor irmos dormir, já que teríamos muitos quilómetros pela frente no dia seguinte. Escusado será dizer que esta parte velha estava cheia de gente, com aquele burburinho normal de rua espanhola.




A ver: o Barranco de Aronga. A vista é mesmo bonita. Entrar nas pequenas aldeias junto ao rio Sil (antigas moradas de muitos mineiros). Em Ponferrada vale a pena visitar o Casco Antigo.
Comer: Ponferrada. Não comemos. Fomos comendo. Como é tradição em muitos sítios em Espanha, por cada bebida é oferecida uma tapa. E foi assim que jantámos.

25.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_4

12 de junho
Cangas - Riaño
O dia em que voltaríamos à estrada do Cervo, a montanha russa de curvas e contracurvas.

Fotos de Rui Oliveira

A primeira paragem do dia seria em Potes, o ponto a partir do qual se poderia ir a Fuente Dé. Logo no início da viagem (e sabendo o nevoeiro que estava) decidimos passar Fuente Dé. Não daria para subir o teleférico e ia tirar-nos tempo para descobrir outras aldeias que estavam previstas. 

A chuva fez das dela. Tínhamos feito cerca de 30 km quando ela decidiu aparecer. Parámos, vestimos os impermeáveis e seguimos a estrada. Ao contrário do ano passado, fomos mais devagar. Estávamos a curtir as curvas, mas a fazê-las com mais calma. Em Liebana parámos para almoçar. O Rui embarcou (outra vez) no costume local dos dois pratos. Eu optei por não o fazer, por causa do sono com que fico.
Algures entre Cangas de Onís e Potes. A estrada desce em curva e contracurva. Uma delícia para que anda de moto.

E durante esta pausa a chuva parou. Ainda bem, pensámos. E siga para a estrada do Cervo. Sem chuva e com o piso seco, a diversão apoderou-se de nós. Depois de Potes, o Rui passou para a frente (a moto dele ia menos pesada e - claro está - ele curva bem melhor que eu) e começámos a rotina de "deita a moto para um lado e para o outro" até ao Cervo. Foi maravilhoso: as curvas, a paisagem com nevoeiro que deixa o verde revelar-se. 

Três frames mesmo antes da estrada do Cervo e de todas as curvas. 
Os saltos e a sessão fotográfica foram uma forma de aliviarmos a ansiedade.

Estive em dúvida entre trocar a GS pelo cervo. Mas ele olhou para a GS e disse que ia melhor montado nela. 

A paragem seguinte seria em Posada de Valdeón. Mas antes saímos do trajeto por uma estrada estreita. Até darmos de frente com a escultura do urso (uma homenagem ao urso ibérico). A paisagem deste ponto é (mais uma vez) incrível. A 360º veem-se pequenas aldeias distantes, neve, os picos que se erguem, imponentes.
Uma questão de escala.

A vista desde a estátua do Urso.

Poses feitas mesmo perto da estátua do Urso (não, não é o de óculos escuros).

Metemos conversa com um grupo de ingleses. Já tinham feito 1800 km - nós íamos nos 700 e tal ou 800 e tinham mais dois dias nos Picos. Já se lamentavam pela falta de tempo, mas os olhos deles brilhavam quando falavam na paisagem, na estrada e na comida. 
Tiraram-nos uma das poucas fotos em que aparece toda a “comitiva (eu, Rui e motos) com a paisagem que descrevi em fundo. O destino seguinte era Posada de Valdeón. A estrada era mais avermelhada e em menos bom estado. Mas, como estava seca, continuámos a dança das curvas. 

Mais uma prova de bons autocolantes.

Chegados a Posada, vimos a indicação para Caín. Era mesmo isso. Fomos atrás de um grupo, que "ia abrindo a estrada" estreita e carregada de curvas até Caín. O sítio é muito engraçado. Pequeno, com muita água (outra vez cristalina) a correr e rodeada de picos. Uma espécie de enclave no meio de tanta rocha cinzenta.

Caminho para posada de Valdeón.

Comemos qualquer coisa e descansámos um pouco. E conversámos com aquele grupo - eram do Porto - que ainda ia para Gijón naquele dia (notava-se o cansaço na cara deles). Demos alguns conselhos sobre como seguirem rapidamente para o destino, já que as penduras eram quem mais estava a sofrer. 

Este encontro acaba por ser engraçado por outra razão. O pai do Rui conhece uma das pessoas do grupo. Melhor ainda, essa pessoa viu o Rui crescer. E a forma como eles se aperceberam disto foi ainda mais engraçada. Por acaso, o pai do Rui ligou ao “engenheiro” para perguntar como estava. “Estou bem. Cheguei ontem dos Picos da Europa e estou um pouco cansado”. “Que engraçado, o meu filho esteve lá, também”. “Ai sim? Nós conhecemos dois rapazes do Porto, que até nos ajudaram lá num problema de percurso. Que moto tem o teu filho?”. “Tem uma Hornet”. “A sério? Aquele rapaz era o Rui?”. E pronto. Percebemos mais uma vez que este mundo é minúsculo.

Queríamos fazer a estrada de regresso a Posada de Valdeón. O Rui foi à frente, a abrir caminho. Uma estrada que passava no meio de muitas árvores, retorcida, daquelas estradas que faziam abrir um sorriso.
Com a Posada de Valdeón em fundo, depois de já termos ido a Caín.

Depois de Posada de Valdeón, onde temos algumas fotos incríveis, foi seguir a estrada de montanha, com curvas rápidas e bom piso. E descemos à estrada que liga Riaño e Cangas, e que passa junto ao embalse de Riaño. 20 km de curvas até ao nosso último hotel nos Picos, em Riaño.

A chegada a Riaño. O fim do Repicos.

Chegados a Riaño, demos conta que havia uma espécie de "concentração" de BMW Z3 e Z4. Como eu tinha uma BMW, estacionei mesmo junto ao local reservado para os meninos dos carros da BMW.

Riaño tem um problema: o excesso de falta de restaurantes. Tínhamos o do hotel, mas eu tinha lido que era caro e não era grande coisa…. sendo assim, acabámos por comer um hamburguer num café bem pequeno. Depois disso resolvemos descansar, porque tínhamos visto muita coisa fantástica e precisávamos (eu precisava) de organizar as ideias.



A ver: Os pontos assinalados no mapa. Falta acrescentar Fuente Dé e o seu miradouro, acessível por teleférico. Não visitámos devido ao nevoeiro - seria impossível subir até ao miradouro.
Comer: Em Riaño não há muita escolha. E a que existe é cara. Optámos por um hamburguer junto à bomba de gasolina, que também tem uma das melhores torradas que já comi.
Dormir: Riaño tem poucos sítios onde dormir. Ficámos no sítio mais barato (25 pp/noite).
Recomenda-se o parque de campismo, que tem bungalows.

23.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_3

11 de junho
Cangas-Cangas
O dia com menos quilómetros, mas com muitas vistas.

Fotos de Rui Oliveira

Deixámo-nos dormir. Estávamos cansados dos quilómetros do dia anterior, da chuva e do problema na navegação, que nos obrigou a seguir a autoestrada. Decidimos dar-nos "ao luxo" de ficar mais um bocado a descansar, até porque o percurso para este dia não era longo.

Eu acordei mais cedo. Saí do hotel para ver um bocado das ruas, perceber como era Cangas de Onís. Comprei o pequeno almoço, para aproveitarmos o 6º andar e a varanda que nos calhou em sorte.

A preparação para o pequeno almoço e a vista sobre Cangas de Onís.
Os cacetes espanhóis não são maiores que os portugueses.

Saímos de Cangas de Onís, para redescobrir os lagos de Covadonga. Antes parámos frente à catedral, para tentar perceber se havia limitações na subida, já que o nevoeiro era intenso. Encontrámos um grupo de 3 portugueses (primeira vez nos Picos). Demos alguns conselhos, ouvimos a história deles sobre as chuvadas que já tinham apanhado, e regozijámo-nos com a “secura” do nosso caminho. Como era hora de almoçar, descemos até à entrada de Covadonga para encontrar um sítio para comer o presunto, o queijo e o pão que tínhamos comprado.

Mesmo antes de subir até Covadonga. O sítio onde almoçámos esta mesmo ali ao lado.

Depois fomos até aos lagos. A subida, já de si difícil devido à inclinação e curvas, tornou-se num desafio. O nevoeiro não deixava ver mais de 5/6 metros à frente da moto. Não conseguíamos apreciar a paisagem (que eu sei que é maravilhosa) que nos rodeava. À saída de uma das curvas, um grupo de vacas pastava e passeava-se pela estrada, vagarosamente.

Subida para o lago Ercina, os animais que por lá habitam e o nevoeiro no caminho.

Seguimos até ao lago Enol. Não se via água. Nenhuma. Nem a paisagem que rodeia o lago. Perguntei ao Rui se valeria a pena continuar até ao Ercina. "Sim", disse ele sem tirar o capacete. E lá fomos. 3 quilómetros de estrada estreita, em mau estado, até ao lago. Parámos as motos e o nevoeiro mantinha-se. Decidimos sentar-nos um pouco e fumar um cigarro. E eis que acontece algo que só o "Senhor do Tempo" (o cognome do Rui nesta viagem) conseguiria adivinhar: o nevoeiro levanta, o sol vê-se, a paisagem revela-se. E assim tivemos 10 minutos de sol, calor e de paisagem, com os picos em fundo, ainda com neve.

Mágico.
O lago Ercina, depois do nevoeiro levantar. 

Pose das motos para a fotografia, com o Santuário de Covadonga em fundo.
A minha moto é mesmo linda!

O ponto seguinte era Bulnes e Sotres. Até Bulnes ainda choveu um pouco, mas nada que nos fizesse vestir os impermeáveis. Em Bulnes já não chovia. A registar deste sítio: a água cristalina que circundava as rochas e a enorme queda de água.

E subimos mais, com o objetivo de chegar a Sotres. Mas o nevoeiro era ainda mais denso do que aquele que tínhamos enfrentado nos lagos. Por isso, decidimos parar a meio, ouvir o silêncio, fumar um cigarro. E voltamos a descer até Bulnes para uma melfies (selfies às motos). Podíamos ter feito os percursos pedestres que existem. Mas as botas de andar de moto não são o calçado apropriado. 

Mais poses das meninas. Junto a uma queda de água e a um túnel, como convém.

Depois voltamos para Cangas. O cansaço do dia anterior ainda estava presente. Como ainda era relativamente cedo, andámos às voltas na cidade. Ainda revimos um grupo de Lisboa que encontrámos nos lagos, entrámos nas lojas de souvenirs. Ao fim e ao cabo, esticámos as pernas e ganhámos fome para o jantar.

Como no dia anterior tínhamos comido bastante bem no Polesu, achámos por bem repetir. E se decidimos rápido, rapidamente entrámos lá. Nem vale a pena referir o menu. Foi tão bom como no dia anterior.

 

A ver: tudo o que está no texto. Como o tempo não era o melhor, não deu para visitar Sotres. Mas tudo o resto vale a pena.

22.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_2

10 de junho
Chaves - Cangas de Onís.
O dia com mais quilómetros. O dia que seria mais desgastante. O dia em chegaríamos aos Picos. 



Fotos de Rui Oliveira

Saímos de Chaves depois do pequeno almoço e seguimos a nacional, passando pelas Feces de Acima e as de Abaixo - imagino o que será alguém dizer que vive aqui. Será que existe uma associação das Feces de Cima e de Abaixo? Um problema morfológico humano que daria para uma crónica por si só. 
Duas pequenas panorâmicas de Chaves, mesmo ao lado do hotel.

Já em Espanha, tivemos cerca de 70 km de ótima estrada, com curvas largas, rápidas e quase sem trânsito, sempre pela nacional e a acompanhar a autoestrada. Parámos para meter gasolina mais à frente e demos de caras com uma rapariga de nacionalidade inglesa que andava à boleia. Queria ir para Irún. O Rui ainda pensou levá-la, mas só reparou depois que não tinha espaço no banco de trás da moto. 

De nacional em nacional, parámos para almoçar. Eram para aí duas e meia. Enquanto entrávamos no restaurante cai uma chuvada. Daquelas intensas, rápidas e sem aviso. O almoço foi interessante. Como em muitas zonas de Espanha existe a “tradição” do primeiro e segundo prato. Acabámos por comer muito. Eu comi uma salada mista e uns ovos rotos com bacon, uma coisa que não costumo comer. Mas como precisava de energia, teve de ser. O Rui trincou uma carbonara e uma costela de vaca que, por sinal, estava boa. O vinho não era tão bom. Mas como íamos para a estrada, isso acabou por ser vantajoso, porque bebemos pouco. Não me lembro do nome do restaurante, talvez por causa da “necessidade” de chegar a Cangas. 

As motos estacionadas à porta do Restaurante, mesmo antes de um dilúvio passageiro.

Almoçámos e seguimos caminho... Até o GPS entrar em “modo aventura”. Tentou que fizéssemos fora de estrada...

Como estávamos já com cerca de 250 km rolados, decidimos dar o salto para a autoestrada. E assim foi. 120 km monótonos, com alguma chuva e vento, até voltarmos à N625 que nos colocaria no caminho certo para Riaño. Mas antes disso o Rui avisa que só tem dois traços de gasolina. Eu pensei que a Honda era como a minha. Dois traços = 100 km. Mas parece que não. Em Cistierna, lá tivemos nós de procurar uma bomba, para dar de beber aos cavalos. 

Uma das placas de entrada/saída dos Picos. Era obrigatório parar.

Depois de Cistierna sentia-se o “friozinho no estômago”. Sabíamos que os Picos estavam logo ali. Era a altura de absorver tudo: a paisagem, a estrada, os cheiros que nos levariam até Riaño, o local onde a Hornet foi apanhada a fazer umas fotos para o book dela... 

A descida - e o nevoeiro - que nos levaria a Cangas de Onís. Senti-me um D. Sebastião. 
Mas sem aquele incómodo de me perder e de levar espada.

Depois de Riaño foi curvar e contracurvar pelo desfiladeiro dos Beyos, não sem antes do sentimento D. Sebastião, a furar o nevoeiro denso, enquanto descíamos. Já a chegar a Cangas de Onís (e com o Rui à frente) reparei que o autocolante do ano passado ainda lá estava. Fiz sinal para voltarmos atrás e colocarmos o deste ano ("o bom filho à casa torna", pensei eu).

A entrada em Cangas de Onís. E a prova de que temos bons autocolantes.

À chegada ao hotel, perguntámos por um sítio para comer, onde os pratos fossem típicos e fosse “bom de preço”. Recomendou-nos o Polesu. E em boa altura o fez. Um tasco tipicamente espanhol, com muitas tapas, bancos corridos e servia sidra (para mim a cereja em cima do bolo). 
Foi um quase festim. Provámos o queijo de los Beyos, de cabra. Uma textura impecável e um sabor à altura. Depois seguimos com umas patatas bravas (o molho é caseiro), gambas, calamares e uma sobremesa para o Rui. 15 euros cada um, o que é bem interessante. De notar que uma garrafa de 70 cl de sidra fica por apenas 2,40€ e cada cerveja a 1,60€.

Saímos muito satisfeitos e fomos até um bar já perto do hotel, só para fecharmos o dia.

 

Cangas de Onís
Comer: Polesu. Uma recomendação dada na pensão onde dormimos. Uma ementa rica em tapas típicas e com sidra a acompanhar.
A ver: a zona junto ao rio e a ponte.
Sair: não há muito para ver, mas uma volta pela cidade é sempre um ponto positivo.

19.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_1

9 de junho
Porto-Chaves em autoestrada.
O dia com pouca história.
Fotos de Rui Oliveira

O autocolante da viagem, no topo.

O encontro estava marcado, a moto pronta, as malas carregadas e o depósito cheio. Marcámos na Badalhoca da Baixa para uma sandes de rojão. Comemos, bebemos e acertámos pormenores.

Era altura de partir. 
Mas este primeiro dia não seria nada de especial. Sabíamos que a autoestrada é só uma forma de nos levar do ponto A ao B e sabíamos que chegaríamos tarde. Mas, para salvar o dia sabíamos que iríamos jantar bem. 

Até Chaves só parámos uma vez, no alto do Alvão "porque estávamos com frio". Depois dos 30 ºC que estavam quando saímos do Porto, aqueles 22 graus eram de menos para nós... 
Uma camisola no corpo e um cigarro e voltámos a ligar as motos. E depois mais caminho. Foi por esta altura que reparámos que a estrada estava húmida. Viemos a descobrir que tinha chovido antes. Muito. Pensei que não seria mau, até porque quase todas as viagens que fizemos começaram molhadas... 

Autoestrada, quase, quase a chegar a Chaves.

Em Chaves, o hotel que nos calhou em sorte era exatamente no centro, junto à igreja matriz. Jantámos no Aprígio, que tem uma alheira fabulosa. Depois seguimos com uns ossinhos de assuã, o vinho da casa e um leite creme. Soube bem.

Depois fomos "ver as modas" de Chaves. No centro, a cidade estava animada, por ser véspera de feríado. Falámos sobre o que estaria à nossa frente. Acho que ansiávamos pela manhã do dia seguinte e em chegar a Cangas de Onís.



Chaves

Comer: Restaurante Aprígio. Largo Trás do Calvário. Das melhores alheiras que já comi.
Dormir: Como em quase todas as viagens, procurámos o sítio mais barato. Desta vez, optámos por dormir no centro da cidade. Utilizámos o booking para a reserva.
Sair: Fomos até aos bares na rua da Adega Faustino.

A próxima (grande) viagem.

A ideia surgiu em março passado. O objetivo era enviarmos as motos para Marselha, apanharmos o ferry para a Córsega, voltar para o continente e fazer o sul de Espanha até casa. 
Era, mas não vai ser. 
Comecei a fazer as contas por alto e o orçamento (que derrapa sempre) já era alto. Era preciso repensar a viagem. Fazer algo mais contido, mas bom na mesma. Queríamos conhecer a zona de Carcassone, Mont Saint-Michel e Nantes. E ficar dois dias em Barcelona. Isso era certo, fosse qual fosse o roteiro.

Repensámos a viagem.
Mandaríamos as motos para Nantes, de onde partiríamos para a viagem. Cidades definidas, roteiro mais ou menos planeado. Estávamos contentes, exceto com a parte de só começarmos a rolar três dias depois de começarem as férias. E, de repente, uma grande ideia. E se fizéssemos ao contrário? Íamos de moto até Nantes e elas viriam no camião (e nós de avião).
Perfeito.

Agora é só planear tudo, sendo que no primeiro esquema da viagem faríamos todo o sul de Espanha… algo que nos deixaria cansados e sem oportunidade de conhecer as cidades por onde passaríamos. Uma exaustão que poderia ditar a "não curtição" da viagem.

Por isso, vamos voltar a pensar em tudo. Talvez fazer uma ligação "mais direta" a Barcelona, para termos mais tempo para viajar e conhecer melhor França.

Can't wait for it!

17.6.15

Depois da última, venha a próxima.


A viagem aos Picos da Europa acabou há poucos dias (crónica diária em beve). Mas há outra saída a caminho. Desta vez é "cá dentro" e dura muito menos tempo, o que não significa que seja menos interessante.
O destino é Loriga. Já por lá andei o ano passado com uns amigos. Mas desta vez será diferente, já que os meus companheiros de viagem são mais velhos que eu, têm decididamente mais experiência e gostam efetivamente de "curtir o caminho", desde que se chegue a horas para comer e beber.
Um desses companheiros de viagem diz-me muito. Porque o conheço há 19 anos, porque é muito boa pessoa e, porque não dizê-lo, é pai da minha namorada. Já me "obrigou" a acelerar em muitas curvas, numa das poucas saídas que fizemos, e fugiu-me em muitas retas - o raio do homem domina a moto que é uma coisa incrível.

Assim sendo, começo a ficar ansioso por partir com ele para a estrada. Sei que vou ser o benjamim do grupo, o "miúdo" que vai com o GPS e a parafernália eletrónica para registar a saída. Uma coisa simples, que só eu podia ficar encarregue, já que eles "têm muito mais em que pensar".

Em breve terei mais notícias, fotos e histórias para partilhar.

Nexx XT.1

O meu AGV K3 já estava a chegar ao final do seu tempo de vida útil. E por isso era necessário arranjar outro capacete. Procurava um que fosse confortável, menos barulhento, a bom preço e, já que estava numa pedir, com Pinlock.

Decidi-me pela Nexx. Por ser uma marca portuguesa. Porque tinha bons acabamentos, o forro interior completamente amovível (acabou o banho de imersão de TODO o capacete) e porque me pareceu ter bom preço para o que oferecia.

Agora faltava escolher o modelo. Primeiro pensei no XD.1. Respondia aos pedidos. Bons acabamentos, Pinlock, forro amovível, com a vantagem do sistema de remoção da pala, colocação da action camera, etc. Depois comecei a estudar melhor e havia uma coisa que não estava dentro do pedido/desejado. Por ser um capacete dual (estrada e fora dela) a viseira era enorme (isso é bom, eu sei). Mas tinha um problema. Era mais propício ao barulho, algo que eu queria combater, já que o AGV era o que se ouvia (muito alto).

Li sobre o XT.1. Agradou-me. Era um capacete de estrada que, segundo a análise da Revzilla, respondia aos pedidos. Eu sei que é impossível ter o nível de insonorização de um Schubert. Mas se eu tivesse dinheiro para um Schubert, não teria dificuldades, não é?

A primeira impressão. É bem acabado, é confortável e tem uns extras que me agradaram. A começar pela viseira para o sol. É prática, deixa de haver óculos a entrar e a sair, para estragarem as espumas. Gostei também da ventilação do XT.1. Mesmo sem a película Pinlock, não embacia como o AGV. 

Confesso que a primeira vez que o coloquei pensei que ia ficar sem uma das orelhas. Como tenho dois brincos, aquilo apertava-me. Mas depois da sensação inicial, percebi que é mesmo assim. E deu para perceber, também, que o ser difícil de colocar e tirar é bom. Isola bem o som que vem do pescoço. 
O que é "fora do normal" é o sistema de fecho da viseira. Em dois aspetos. Primeiro porque não tem um entreaberto como o AGV. Eu deixava sempre um pouco aberto, para não embaciar e entrar ar. Agora não é preciso. Pode estar mesmo fechado, que aquilo não embacia nem aquece demais. Perfeito.

A outra coisa fora do normal é o sistema de fecho. Primeiro porque a patilha ao centro. Segundo porque tem um "botão" que "sela" o capacete, para circular a velocidades mais altas. Confesso que requer um pouco de habituação. Mas o botão é uma boa forma de isolar bem o capacete. 

Até agora já fiz uma viagem de cerca de 1.500 km com este capacete e, mesmo com as variações de temperatura e humidade, não senti necessidade de aplicar o Pinlock. Talvez no inverno o faça.

9.6.15

Repicos: o regresso aos Picos da Europa. pt_0

Somos dois. Repetimos a viagem. Repetimos alguns destinos. Repetimos a vontade de fazer quilómetros. Repetimos uma parte das férias. Repetimos também a partida a seguir ao trabalho.Tanta repetição, deu no Repicos, a "viagem grande" deste ano.

No ano passado, eu o Rui e o Gonçalo fomos até aos Picos da Europa. Uma viagem de 6 dias, com muitas curvas, paisagens maravilhosas e muitas histórias para contar.
Este ano estávamos a pensar noutra viagem. Seriam 4 ou 5 motos (adicionar-se-iam à viagem o Ricardo e o Eduardo). Pensámos numa volta raiana: fazer Portugal pelo interior, com um ou outro salto a Espanha, com início em Vila Real de Santo António e o final em Caminha parecia-nos bem. Teríamos muitas curvas, rios, paisagens, bons sítios onde comer... tudo aquilo que faz parte de uma boa viagem de moto. Mas depois vieram as desistências. Um porque teve um acidente (grave só para a moto) e outro por motivos pessoais.

E chegou a altura de repensar tudo. Faltaria um mês para o início da viagem. Estava eu, o Rui, o Gonçalo e a namorada alinhados. Ótimo. Começam-se a planear rotas, a pensar em estradas, a ver dormidas. E eis que a duas semana o Gonçalo desiste. A moto estava com problemas no motor... fico eu e o Rui. Onde vamos, onde vamos? Sul de Espanha? Não tínhamos dias de férias suficientes. Seriam muitos quilómetros diários, seria mais esforço que outra coisa.

Vamos aos Picos. Pareceu-nos bem. Queríamos descobrir pontos que não vimos o ano passado. Íamos ter um dia mais tranquilo, para vermos mais explorarmos a área, tirar mais fotografias.
E assim será. Faltam 6 horas para a partida. Hoje, depois do trabalho, vamos até Chaves, o nosso primeiro ponto de passagem. Amanhã chegaremos a Cangas de Onís... já falta pouco.