17.6.14

Vamos aos Picos da Europa e voltamos já (3/5)





Dia 03: Oseja de Sajambre - Cangas de Onís - Carreña - Torre de Cerredo - Tresviso - Panes
Este foi o primeiro dia em que ignorámos (eu ignorei) o percurso que tínhamos planeado. O percurso oficial foi este: Oseja de Sajambre - Cangas de Onís - Covadonga - Lago Ercina - Panes

A pergunta é: porquê?
A resposta é simples: porque sim, porque nos deixámos levar pela estrada, porque eu me tinha esquecido de incluir Covadonga e os seus lagos. E porque podíamos.

Eram 10 da manhã quando o Rui entra no nosso quarto e pergunta se já estávamos prontos. Devia estar a tentar compensar a espera de uma hora e tal do primeiro dia. Estávamos quase. Demorámos mais dois minutos.

Depois de pagarmos o hotel e já com as motos preparadas, conhecemos o Djik. Djik é um holandês, na casa dos 60 anos. Tinha reservado 4 semanas para andar de moto. No dia anterior tinha saído de Lisboa, passado pelo Porto, etc. 12 horas de moto. Sim, 12 horas. A moto dele tinha tudo: tenda, saco cama, roupa e comida. Mas não era um daqueles cavaleiros do asfalto porcos. Era um senhor respeitável, com um inglês muito bom e muito boa disposição. A certa altura alguém perguntou se a esposa não andava com ele. A resposta foi a clássica:
"- Não. Ela não gosta de dar cabo do cabelo e das unhas. Por isso é que tenho estas 4 semanas para andar de moto e depois vou uma semana com ela, de autocaravana".
Falhámos ao não tirar uma fotografia com ele, porra!

Entretanto um tuga montado numa colossal KTM 990 ouviu-nos falar em ir à farmácia ali ao lado comprar algo para a constipação da Inês (a ver se ela se livrava do que tinha trazido a mais. Afinal de contas, a moto do Rui não tem capacidade para levar muita coisa e a mochila que ela, valentemente, carregou durante toda a viagem estava a abarrotar). Sabendo que era domingo - por esta altura já tínhamos perdido a noção do dia da semana - desenrascou-nos com paracetamol e ibuprofeno. Era um bom tipo. Podia ter comprado uma GSA mas preferiu a 990. Às tantas, se tivesse a GSA, não tinha sido tão prestável.

Às 11 horas já tínhamos as motos atestadas e estávamos sentados para o pequeno almoço. Seria este o dia de passagem por Cangas de Onís, um dos sítios badalados desta zona. Até lá íamos passar no Desfiladero de los Beyos. Esta zona é incrível. Várias mãos cheias de curvas, uma estrada impecável e muitas aldeias típicas a ladear a estrada. E motos a cruzarem-se connosco. E toda a gente se cumprimentava, exceto alguns paneleiros portugueses, quase todos de GSA, os cabrões.

Parámos a meio da estrada do desfiladeiro para tirar uma fotos. A esta altura já estava calor. Tanto que fomos "obrigados" a tirar os forros dos casacos. Isto depois de pensarmos que ia ser um dia de chuva.
Antes de sairmos apareceu um conhecido meu. Parou e estivemos a falar. Sugeriu irmos aos lagos de Covadonga. Que a zona era mesmo maravilhosa, que parecia um wallpaper de computador.
E lá fomos. Parámos à entrada de Cangas de Onís para marcar o pilar. E passámos pela localidade sem parar. Tinha gente, muita gente nas ruas. Parecia a Apúlia em agosto.
Continuámos até Covadonga, onde almoçámos durante duas horas. Fotografámos a Catedral, a igreja "cravada" na rocha e depois siga para o Lago Ercina. A subida é íngreme, apertada e tem muitos carros. Ultrapassar é difícil, mas possível. E quando se começa a ladear outra parte da montanha temos a vista... é impressionante.



A esta altura, a Catedral de Covadonga é um pontinho na fotos. De um lado temos muito sol, do outro um pico com neve. Era para lá que íamos. No caminho vemos muitas pastagens. Vacas e ovelhas passeiam alegremente nos prados, nas estradas e nas rochas. Aquilo é mesmo delas. Até a estrada.

E chegámos ao lago Ercina. E o meu conhecido tinha razão. É digno de wallpaper. Bebemos uma coisita fresca e seguimos o Rui e a Inês para a "pradaria". Era um relvado ENORME, com o lago em frente e os picos com neve em fundo. Deitámo-nos na relva a ouvir os ritmos dos badalos das vacas. Acho até que um de nós adormeceu. Ficámos a apreciar a paisagem e o som para aí uma hora. Era um dos pontos altos da viagem. Descemos até Covadonga outra vez e virámos em direção a Panes. E aqui apareceu um parque de diversões de curvas. Rápidas, bem feitas, num piso irrepreensível. Nota negativa apenas para a mosca mal-cheirosa que decidiu terminar a sua vida no meu capacete.


Encontrámos o hotel, preparámo-nos para jantar e saímos para comer. Mas não sem antes o Jorge explicar aos donos do hotel que chegaríamos depois das 00:30. Em português. Foi maravilhosa ver a cara deles a olhar para o Jorge, sem perceberem puto. E reparar no olhar do Jorge a chamar-me, enquanto descia as escadas para a receção.
Fomos a um tasco pelo qual tínhamos passado antes. Uma tábua de queijos e enchidos, umas "flechas" (Jorge, és o maior), cañas a rolar e conversas pelo meio. Foi nesta altura que a Inês contou como ela e o Rui se conheceram (se quiserem saber, perguntem-lhes, que eu não revelo nada). Também foi no meio desta conversa que o Rui falou das suas habilidades em saltos de bicicleta inacabados e como se consegue ajoelhar, depois de cair de moto.
Era domingo e perguntámos se existia algum sítio para bebermos mais umas cervejas. Pé ante pé e fomos dar a um café só com pessoal mais velho a ver fórmula 1 (não, não era o Rui a fazer estrada).

Mas antes tivemos outro momento grande, quando os três elementos masculinos foram brincar para os baloiços e para o escorrega. As fotografias foram todas apagadas. É pena, porque o Rui voltou a demonstrar o modo como se deve sacar numa moto e fazer "paradinhas". Mas eu acho que o Jorge estava a fazer melhor. Pelo menos no estilo.

E assim terminava este dia. Pessoalmente, estava extasiado. Tínhamos percorrido estradas fabulosas, conhecido sítios quase mágicos. Estava feliz. E apesar das dores de rabo, era capaz de fazer isto para sempre. :)

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